MEU MUNDO DIMINUIU
por Angela Ribeiro

Ouviu o som da torneira aberta e levantou para ver se ela tinha voltado.
Com dificuldade calçou o par de chinelinhos mostarda desbotado, apoiou as mãos na cama e num impulso alcançou o teto do céu.

Num compasso acelerado chegou até a porta.
Pôs uma das mãos da maçaneta.
Abriu um sorriso.
Uma brecha, um suspiro.
O coração não, o coração ele deixou bater forte, como o vento.
Os olhos chegaram até a porta do banheiro que estava entreaberta.
A torneira continuava com um pequeno vazamento, não havia ninguém lá dentro, escorria água pelo rosto.
O ralo estava entupido e ele estava pronto para transbordar.
A vontade era de voltar para o quarto e continuar pensando que ela tinha voltado, que estava lavando cuidadosamente as mãos para preparar os bolinhos de chuva que ele tanto gostava.

Decidiu ir até a cozinha e ele mesmo preparar a receita da avó, que foi da mãe, da esposa, da filha, da neta...
A receita antiga era a ponte frágil que ele usava para se equilibrar e encontrar todas elas em uma grande festa!

Na sua janela em frente ao fogão, um broto de feijão plantado por pequeninas mãos numa escola de bairro.
Um presente.
A plantinha estava seca.
Não chovia e a torneira do banheiro continuava pingando lembranças, uma a uma.
Era inverno mas não era,  fazia calor. Ele não conseguia compreender, não tinha ninguém para explicar o que acontecia no mundo.
No seu mundo.
Todos os pares de meia reservados para o frio estavam ali em forma de bolinhas de natal em família, intactos na gaveta, arrematados por mãos muito delicadas.

Chovia muito dentro dele. Abriu a janela para respirar.
O céu estava cinza, o sol dourado, o arco-íris pálido tinha apenas duas cores, preto e branco.
Uma fotografia de uma época que ainda não tinha chegado na sua TV, emoldurada em forma de notícia.

A chuva estava cada vez mais forte.
Correu na velocidade do seu tempo e recolheu tudo, as roupas brancas do varal, os bolinhos, as lembranças, o vento, o broto de feijão, tropeçou numa pérola de um colar arrebentado pelos anos, alcançou uma caixa onde morava uma bailarina e guardou tudo. Seu mundo todo estava ali, reunido, traduzido numa valsa perfeita para dançar assim, olhando nos olhos dela.

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Sobre a coleção:

A inspiração é a mutação -   adaptação – evolução que o mundo atravessa.
O aquecimento global é a causa da inversão das estações, El Niño, efeito estufa, o Pólo Norte em  Salvador.
A coleção é a resposta de como tudo reage a isso.

As peças com deformações, abcessos, inversão de estações nos tecidos, mistura de cores frias e quentes.
Detalhes que misturam animais e  plantas.

A marca procura temas que se alinhem com ações coletivas, comuns na realidade mundial. Mas sem perder a leveza e ironia.

O release, nossa ‘cápsula do tempo’.

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///DESFILE INVERNO 2008 CASA DE CRIADORES///FICHA TÉCNICA

//Tudis: Alexandra Fernandes, Stella Fernandes, Márcia Higuchi e Keila Akemi
//Styling: /AD (Ademar Ferrera)
//Concepção de Beleza: Pi Luchezi
//Beleza por Raul Melo . Gloss
//Vinheta: Giba Reys
//Banda: Kerby Ferris, Thiago Assan Piwowarczyk e Adriano Ricardi . Música: 'Big Mess'
//Patrocínio: Aretha
//Apoio: Rosset
//Exército da Salvação: Alexandre Frango, André Amaral, Andrea Company, Ângela Ribeiro, Barbara Thomaz, Bazar Pamplona, Branca, Camila Maschietto, Carol Jolie, Claudio Dantas, Danielle Cunha, Débora Casa, Dudu, Ed Morais, Fabolha, Fernanda Settani, Gerciene, Gilberto França, Gustavo Gialuca, Guler, Jajá vasconcelos, Jorge Antonio, José luis Brito de Oliveira, Ju Basile, Júlia Casal del Rey, Juliana Freire, Karina Corsi, Lu|Virgin Again, Lucas Virgílio, Ludymila Louise|PicMeUp, Natajca Kamachatny, Neon3, Ota e Clau, Paula Reboredo, Paulo Fehlauer, Rafa Grou, Rodrigo Maceira, Tonini, Toni Pereira, Virgílio Máquina, Walter Ramos.